Quando nasci, obscuras raízes se espalharam,
traçando caminhos enviusados e escuros,
vejo-me caminhando em frente, sem parar,
desejando debaixo de uma árvore, te encontrar,
comer de um fruto que não seja teu,
descobrir uma sombra que não cai do céu,
ou simplesmente poder te desviar,
por outro caminho que sonhaste e julgas teu,
irrevogáveis são os passos que te vão levar,
inerme, sobre a corda bamba à outra margem,
de onde voltar não podes, pois é miragem!
Voltar atrás não podes, é tarde, é sempre tarde,
que a cada momento a corda rebenta sobre si,
e arma-se renovada em tom concertante,
para que de novo a pises e vás em frente,
ao encontro das raízes que em estandarte,
ao nascer, Alguém espalhou para ti!
Mas que eira, que beira, mas que destino,
que mãos cintilantes teimam traçar para nós,
e os fios invisíveis de raiz entrelaçados,
te fazem ir por onde vais, não estando a sós,
sejam ou não os caminhos por ti sonhados,
em toda a nascente que encontres e te debruces,
vês, encontras, pisas a imagem de que foges
outra não é que a que buscas entre silvados.
E a esmo, entre mim, entre mim mesmo,
tudo o que vi e que vivi, sempre retomo,
e ao que o destino me negou eu sempre somo,
passos a mais que dei para não cruzar,
com um destino que ousaste par ti sonhar,
esse destino que faz minha vida fecundar!
A. Victorino