Hoje, rasguei os anos e anos de mágoa que guardas de mim…
Apenas porque te quis e nunca foi suficiente ter-te querido assim…
Partiste e apagaste as histórias de um tempo que não tem fim.
Ainda assim guardei memórias que insisto em pintar de vermelho.
Vermelho rubro de amor, da dor e do sarcasmo em que me espelho..
Mastigaste tudo o que poderíamos ter dito…
mas que ficou assim… esquecido num outro plano.
Como esqueceste de mim as palavras que ainda reclamo.
Ficou por escrever o poema que tantas vezes ansiei,
mas que não continha as palavras que sonhei.
Um dia pedi-te que me escrevesses.
Tu gritaste-me para não to pedir,
que as palavras eram os punhais que eu usava para te ferir.
Hoje deste-me um poema
como quem dá uma lágrima.
Retrataste nele o vazio que construíste para nós.
Durante anos procurei o teu colo e a tua voz.
E o conforto manso de um sentir a sós.
Era no teu peito que apagava todas as dores de estar viva
de pulsar...
de sentir...
de ser eu...
Neste corpo inerte que sem ti morreu!
Hoje deste-me um poema como quem dá um grito.
A romper o silêncio…
O silêncio que disse tanto
mas que nada diz que não tenha sido já dito.
Hoje deste-me um poema e deixaste em minha mão,
o sangue que deixou de viajar pelo teu sofrido coração
…
Amei-te como nunca mais saberei amar ninguém.
Amei-te com a força dos corpos que se misturaram..
Com o mistério dos abraços que se desentranharam.
Amei-te como outros quiseram ser amados..
Mas eu não podia…
Eu não saberia amar ninguém mais além de ti.
Hoje deste-me um poema
e em troca levaste o amor que me susteve aqui.
Hoje sou eu que corto a minha alma...
Com este punhal de paz, com que jamais eu te feri!
A. Victorino
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