Acho que antigamente não escrevia por medo, devo confessar. Principalmente nos últimos dias, andava tão perdida que temia já nem sequer saber falar. Como é possível dizer isto, desencontrei-me entre a realidade em que ninguém vivia, e o sonho que eu houvera construído, e onde tantas vezes vagueei sozinha.
Bem sei que sempre falei e vou continuar a falar, ou pelo menos a escrever, mas por outro lado sinto que devo tentar calar as palavras cá dentro, empurrando-as para impedi-las de me atormentar.
E assim vou calando palavras de amor para não sofrer, engulo a dor para tentar sorrir, escondo o meu sonho para não acordar. Tento fingir quem não sou , mas não sou capaz de o fazer.
Tento passear por este mundo sem me preocupar com o que parecia não sentir. Mas cá dentro uma voz persiste em falar. Voz essa que apesar dos meus esforços para não a ouvir, é a minha verdadeira voz, a que me diz que desta vez não há que ter medo.
O problema é que de tanto calar aquilo que me apetecia escrever, dizer, e sentir, acabei por nem sempre viver! Ia apenas sobrevivendo e eu adoro viver.
Por isso escrevo, porque preciso voltar a falar de amor e de carinho, preciso arriscar de novo, preciso de aprender novamente a sentir. Preciso de desprender todas as palavras que um dia calei. Preciso de extrair do fundo da minha Alma todos os sentimentos que ainda me sufocam e estrangulam.
Não vou mais lutar contra o amor. Não o devo fazer, pois sinto-me como o vento a lutar contra moinhos de vento, como uma criança que espera o concretizar de um sonho.
As palavras parecem-me entaladas na garganta. Presumo que seja pelo facto de as tentar reprimir, para que não possam fazer mal a ninguém.
Assim desta forma vou retendo dentro da alma sentimentos, mágoas, sonhos, esperanças. E as palavras ficam entaladas no meio de tanta emoção que eu vou guardando para mim, mas que continuo a escrever.
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Hoje escrevo algo para tentar combater essa apatia., essa ansiedade.
Hoje é um bom dia para dizer novas palavras, dar respostas e voltar a “dizer” e a “sentir” o amor.
Não sei como será amanhã…
Sei apenas porque sinto, que para um coração como o meu, não há nada pior do que o silêncio.
A ofensa, a raiva, a mágoa, a saudade, tudo lhe é suportável menos o silêncio e o desprezo. Esse dói e não vou mais permitir que o silêncio me retire um sonho que teimo em não querer perder.
Amar…ser amada…e recomeçar a viver!!!
A. Victorino
31 de Maio de 2010